O uso de dados para nortear a tomada de decisões é, atualmente, fundamental para qualquer organização. No caso daquelas ligadas ao Terceiro Setor, coletá-los e analisá-los é imprescindível para gerar o impacto social desejado.
No entanto, há algo que determinará a longevidade das ações e mudanças implementadas com base nos dados: o quanto a comunidade está envolvida não só em ser fonte de extração, mas de participar ativamente da tomada de decisões fundamentadas neles.
Não é incomum que pesquisadores, profissionais e organizações da área repitam a lógica colonialista de extrair recursos e explorar os povos nativos ao coletar dados, apropriar-se deles e negligenciar a participação da comunidade nas políticas que serão desenvolvidas a partir dessas informações.
O termo para essa prática, chamada por “colonialismo de dados”, foi cunhado em 2009 no livro “The Costs of Connection” (“O custo da conexão”, em tradução livre), por Nick Couldry e Ulisses Mejias.
Em um artigo na Stanford Social Innovation Review Brasil1, os pesquisadores Nithya Ramanathan, Jim Fruchterman, Amy Fowler e Gabriele Carotti-Sha definem o “colonialismo de dados” como a ação de “reivindicar a propriedade de dados produzidos por outrem e para outrem, apropriando-se da maior parte do valor desses dados”.
Eles entendem que seguir por este caminho é “contraproducente” porque acaba por negar princípios básicos do Terceiro Setor. A colonização de dados é prejudicial porque gera decisões de baixa qualidade; desempodera as comunidades e gera apropriação indevida de recursos.
Os pesquisadores propõem às organizações que adotem o que chamam de “Decolonizar Dados” caso, de fato, queiram empoderar as comunidades onde atuam. O princípio básico para isso é, conforme eles defendem, transferir o poder sobre os dados para as comunidades onde são coletados.
É uma mudança que, admitem, não é fácil, mas crucial para “fortalecer a ação coletiva e de ajudar a garantir que os benefícios dos dados sejam acumulados direta e imediatamente por pessoas e lugares de onde são coletados”.
A Rede Mondó tem como um dos seus grandes pilares a orientação de suas ações e iniciativas a partir da análise de dados e de construção de diagnóstico do território onde atua. Isso vem a partir da investigação socioeconômica e demográfica das comunidades e dos públicos-alvo.
Nossa frente de atuação nesse âmbito é o Núcleo de Mensuração e Avaliação de Impacto. Por meio dele, a Rede desenvolve, frequentemente, pesquisas com dados secundários, disponíveis nas principais plataformas de dados abertos, como DATASUS, INEP, IBGE e IPEADATA.
Mas o trabalho vai muito além: por meio do Núcleo, conseguimos entender as necessidades locais a partir construção e aplicação de instrumentos de coleta de dados primários, focados nas nossas 4 dimensões de atuação (Educação, Saúde, Desenvolvimento Econômico e Moradia, Energia e Água), complementados com a cultura de laboratórios de cocriação de soluções, permitindo que o público-alvo faça parte das tomadas de decisão e da formulação de ações dos programas.
É dessa forma que conseguimos fazer a conexão entre as ações e iniciativas propostas para a comunidade com a conjuntura socioeconômica e demográfica. Tudo isso para gerar impactos robustos e sustentáveis na população e criar um ambiente favorável à transformação das realidades sociais.
Acreditamos que colocar a comunidade no centro das decisões, sobretudo quando ela fornece as informações necessárias para fomento de ações e estratégias, permite que tenhamos maiores chances de provocar mudanças que, de fato, vão transformar a realidade. E isso só será efetivo se vier de dentro para fora.
Texto: Diógenes Santos (coord. de Comunicação) e Rodrigo Arruda (coord. do Núcleo de e Mensuração e Avaliação de Impacto da Rede Mondó)
O Instituto Mondó é feito por pessoas que acreditam na mudança e entendem a importância das demandas sociais e ambientais do presente que impactam no futuro.
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